Para falarmos de Anastacia, nós precisamos tratar de duas coisas: sobre as princesas da Disney e sobre a Revolução Russa:
O estereótipo da "princesa em apuros"
As princesas Disney podem parecer hoje em dia como personagens com grandes personalidades, mas isso tudo se deve a mudança de Hollywood de manter estereótipos. Um exemplo é a versão live action de A Bela e a Fera, onde Bela é bem mais ativa na trama, com um maior personalidade. Tanto que a própria atriz Emma Watson é uma moça declaradamente feminista. Então, elas quebram com o padrão da "princesa que precisa ser salva".
E a Disney, manteve por muito tempo, esse padrão. Pois ele lhe rendia certa grana. Vide que os primeiros maiores sucessos dela foram Branca de Neve, A Bela Adormecida e Cinderela. É hoje em dia que podemos ver princesas com mais senso próprio como das obras Enrolados ou Frozen. Na verdade, Elza, desse segundo, talvez seja uma das primeiras representantes de assexuais na empresa.
Mas não irei falar dos primórdios da empresa, nem dos tempos atuais. Mas em um período que a Disney mandava nesse universo de animações e que poucas empresas lhe desafiavam.
Ironicamente, a princesa que iria surgir para tentar competir com ela era russa. Para ser preciso, ela seria a última filha do czar, antes da Rússia se tornar socialista. Anastasia.
A princesa que NÃO É da Revolução Russa
É engraçado pensar nisso: a princesa que foi utilizada para competir com as da Disney, um dos maiores símbolos do capitalismo, foi uma da Rússia, que sempre é associada ao comunismo e socialismo.
Mas não é de hoje que se usam de períodos conturbados da história real para contar um "conto de fadas". Se forem ver o passado da verdadeira Pocahontas, vão ver o quão triste foi sua vida e as ações com ela. Entretanto, apesar de ser tratada como personagem assim, ela não é "soviética", ou seja, ela não tem a ver com o socialismo e comunismo. Mas sim do fim do sistema monárquico no país devido a implantação desse sistema.
A Revolução Russa de 1917 foi uma série de eventos políticos na Rússia, que, após a eliminação da autocracia russa e depois do Governo Provisório (Duma), resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique. O resultado desse processo foi a criação da União Soviética, que durou até 1991.
No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo (produção de gêneros agrícolas).
Os trabalhadores rurais viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos impostos para manter a base do sistema czarista de Nicolau II. O czar governava a Rússia de forma absolutista, ou seja, concentrava poderes em suas mãos não abrindo espaço para a democracia. Mesmo os trabalhadores urbanos, que desfrutavam os poucos empregos da fraca indústria russa, viviam descontentes com o governo do czar.
No ano de 1905, Nicolau II mostra a cara violenta e repressiva de seu governo. No conhecido Domingo Sangrento, manda seu exército fuzilar milhares de manifestantes. Marinheiros do encouraçado Potenkim também foram reprimidos pelo czar.
Começava então a formação dos sovietes (organização de trabalhadores russos) sob a liderança de Lênin. Os bolcheviques começavam a preparar a revolução socialista na Rússia e a queda da monarquia.
Dito isso, se Anastasia Romanov existisse, ela seria contra o sistema da União Sovética, creio eu.
Ursos dançando, asas pintadas / Coisas que quase eu me lembro / E uma música que alguém cantou / Uma vez em Dezembro
Era uma vez em Dezembro
Anastasia é uma animação claramente, como falei antes, para criar um concorrente com as obras da Disney. Criada pela Fox. Dirigido por Don Bluff e Gary Goldmn, que foram responsáveis por muitos clássicos como A Em Busca do Vale Encatado, Todos os Cães Merecem o Céu, Um Conto Americano (esse último começou a me deixar com uma ideia sobre esses dois criadores... Mas falo disso outro dia).
Na trama, Nicolau tem sua vida colocada em risco, pois Rasputin, conselheiro do czar, quer o poder sobre aquele território. Acontece que ele, do mesmo modo que Jafar de Alladim, tem poderes místicos. E fomenta a raiva através da magia para que toda população ataque os líderes russos absolutista. Sério, basicamente, sem ser direto, esse filme diz que a Revolução Russa surgiu devido a um pacto demoníaco. Alguns críticos devem ter rido muito... Ou não...
Rasputin é tragado pelas forças das trevas. A rainha consegue fugir, mas deixa sua filha sem querer cair do trem. A menina, Anastasia, bate a cabeça e perde a memória.
Anos depois, Rasputin retorna pois as forças das trevas notam que Anastasia pode voltar para sua família. Estranho ne? É quase como um filme que defende a autocracia monárquica absolutista... Tá bem, isso é bizarro se for ver...
Anos passam, e a população do país sofre esperando que a herdeira retorne para assumir seu lugar de direito e traga prosperidade. Ok... Estranho. Uma dupla de trambiqueiros (um deles, um garoto que foi responsável por salvar Anastasia e a mãe anos atrás) quer ir até a rainha Romanov, que estava na França, com uma princesa falsa. Mal sabendo que estavam levando a verdadeira.
Mas a animação é boa? Sim. Ela só não termina de forma como esperávamos em um típico "contos de fadas". O casal, formado pelo trambiqueiro mais novo e a Anastasia ficam juntos no final, não como reis, mas como plebeus. E isso não trará nenhuma mudança a URSS, obviamente. Nesse sentido, o filme da Fox é mais realista que qualquer obra da Disney.
A história da Romanov perdida não só existe na vida real, como foi usada até mesmo para obras da Marvel (Natasha Romanoff pode ser a princesa também, pois ela envelhece mais lentamente que uma mulher normal devido a experimentos feitos nela!). Assim como a ideia sobre Rasputin, que virou até mesmo um eunuco. Por isso alguns falam que era louco.
O filme é bom. Mas peca em alguns momentos: poderia aproveitar parte da cultura eslava para suas canções. Mas não o fez. Ainda assim, Rasputin é bem inteligente, ao usar poderes mágicos de forma estratégica para tentar controlar Anastasia, a matar ela de forma indireta, mesmo que ninguém imaginasse que ele estivesse vivo. Um vilão bom, se comparar com alguns da Disney que revelam seus planos na primeira aparição (Cruela Cruel). E Anastasia, por ter vivido por dez anos com o a população russa, é uma jovem que quando enfrenta o inimigo, numa época em que princesas só poderiam fazer pequenas ações, tem atitude.
O engraçado é que se formos pensar, quando a Disney comprou a Fox, ela se tornou detentora de Anastasia. Ou seja, a empresa tem uma "princesa socialista". Marx está doido agora no túmulo.
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